Resenha: Violeta velha e outras flores


A arte é mesmo extensa, densa, complexa, plurissignificativa... se não fosse por ela, o mundo seria um caos maior do que já é. A arte retrata a civilização, serve como válvula de escape para seus produtores e admiradores. Ah, a arte...

Matheus Arcaro a conhece bem! É filósofo, pós-graduado em história da arte, artista plástico, poeta, contista, romancista... todas as áreas exercidas com extremo profissionalismo e qualidade. Matheus fala através das artes que produz.

Violeta velha e outras flores já nos deixa intrigados pelo próprio título, metáfora lindíssima e muito bem pensada, por sinal. A intenção do autor, ao assim intitular a obra, foi a de que violeta é uma planta sensível e bela, mas por pequenas coisas pode vir a murchar, e velha, não necessariamente se refere à idade ou velhice. Transpondo isso à vida, violeta seria as pessoas, a existência, enquanto velha, são as manhas adquiridas ao longo dos anos, a bagagem das possíveis trapaças que a vida pode dar.

O livro é um jardim ilhado por belas rosas, entre a camuflagem dos espinhos e dos bichos-de-pé. É planta carnívora que lhe devora a Alma. Comprovamos tais premissas após o término do primeiro conto, o qual nos remete tanto a um conceito filosófico de Platão sobre o Amor; não só nesta parte específica da obra, mas ao decorrer das páginas, quanto de Aristóteles. O amor mencionado aqui, não é referente à temática do conto, mas sim, à relação leitor-obra.

Amor para Platão é denominado de Eros e significa desejo pelo que falta e pelo que se quer. No caso de nós, leitores, é o prazer da degustação de um bom livro, a busca por quem somos e tantas outras tampas para nossas panelas. Já para Aristóteles denomina-se Philia e significa alegria pelo que se tem e enquanto se tem. Nesse sentido, em poucos instantes após o início da leitura, desejamos interrompê-la, pois não queremos que ela se finde e nos tire do estado de torpor, não queremos cortar a excitação da leitura, e para que isso não ocorra, o correto seria se ler um parágrafo por dia, mas há algo mais forte... em um piscar de olhos, devoramos o livro.
 
Violeta é também manual implícito de termos literários e de técnicas narrativas; sobretudo, metáforas, catarse e epifania para o primeiro termo e, discurso indireto e indireto livre, fluxo de consciência, para o segundo.

Ler Matheus Arcaro causou-me os mesmos sentimentos e questionamentos que me causam Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles, notadamente a catarse e a epifania.

A forma com que o autor conta seus contos nos permite uma construção imagética perfeita; deixa-nos com dúvidas várias e inquietantes, pairando no ar.

Quem o ler, com certeza, não será o mesmo e ficará com água na boca à espera do próximo título, que, aliás, já saiu do forno. Porém, certamente é um livro muito mais denso, afinal trata-se de um romance.

Não perca tempo, corra para adquirir seu exemplar e comece a ler, mas prepare-se para muitas lágrimas e incômodos, pois os livros irão lhe virar do avesso e lhe centrifugar.
 

Guilherme Mapelli Venturi
gm.venturi6@hotmail.com

Guilherme Mapelli Venturi é estudante de letras, escritor, revisor, diagramador e técnico em informática, residente em Ribeirão Preto – SP. Ganhou o prêmio do concurso literário do Clube de Regatas com poesia em primeiro lugar e conto em segundo, certificado de participação do concurso literário da Casa do Poeta. Participou das Antologias Ponto & Vírgula – 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e 7ª edições, como do programa de mesmo nome com poemas de sua autoria, declamados pela apresentadora Irene Coimbra. É autor do livro “Devaneios Poéticos” pela editora Legis Summa. Está trabalhando em seu segundo título.

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