Indicação de Livros: Em Mãos

 

“Jorge Luís Borges via a poesia não como um dom intrínseco ao poeta, mas como um fenômeno da natureza, componente indissociável da realidade, “que pode saltar sobre nós a qualquer instante”. Pois bem: saltou sobre Rachel Rabello, que, neste “Em Mãos”, apresenta o que disso resultou – poesia em estado de arte.

O poeta, em síntese, é alguém possuído por uma força que lhe é extrínseca, mas não estranha, nem muito menos adversa. Uma força que o escolhe (ou o sentencia) para expressá-la.

Não necessariamente uma força arrebatadora, convulsiva, que inspira epopeias e ditirambos. A mais poderosa delas é justamente a força da delicadeza, que toca sensibilidades em mais fina sintonia com as manifestações líricas da natureza.

A poesia de Rachel insere-se nessa categoria. É fina, suave, sem que se comprometa o vigor de seu verbo, de sua sintaxe, que jamais incidem no imperdoável delito da banalidade.

Eis alguns desafios, dificílimos, que ela vence: flerta com o lirismo sem o contágio da pieguice; é original sem ceder a artifícios  vanguardistas – e perpassa os mais diversos temas, sem que se perca a unidade e coerência de sua visão existencial.

Sua poesia flui tranquila, como a água de um igarapé, mas com profundidade algumas vezes oceânica, que subitamente surpreendem o leitor. Para senti-la e absorvê-la, é preciso abstrair-se do entorno ruidoso, citadino, contemporâneo, assim como quem vai ouvir uma sonata de Mozart, em absoluta introspecção.

É o mínimo que a poesia exige: um mergulho autista que conduz à essência do espírito. Não duvidem: é o livro de uma estreante, que já veio pronta, com potencial para inserir-se entre os grandes nomes da poesia brasileira. Leiam e constatem.”

Ruy Fabiano
Jornalista e escritor

Em mãos é um lançamento da Editora Oito e Meio

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